Você já quis matar alguém?
Quem nunca tirou uma vida não pode entender as razões de quem já o
fez. Por isso, não tente aplicar a mim as suas noções de justiça,
necessidade ou prazer. Vou contar a minha história não para que você me
julgue, mas para que a experimente, se for capaz.
Meu pai sempre teve armas em casa. Era colecionador. Eu nunca pusera
um dedo em nenhuma, pois sabia que o velho me arrancaria o couro, talvez
literalmente. Quando íamos para o sítio da família no interior, ele
sempre levava pelo menos uma espingarda de chumbinho. Eu o observava
acertar alvos parados, depois móveis, e aquilo podia proporcionar horas
de agonia para minha mãe, que ficava mais pálida a cada tiro ouvido a
distância. Não é um esporte para pessoas frágeis.
Nosso caseiro era um homem de uns 50 anos, com cara de mais de 60,
sem esposa, filhos ou dinheiro, que meu pai empregara por piedade. Mas
em pouco tempo os vizinhos do interior começaram a nos telefonar em São
Paulo queixando-se de que o homem aprontava nos botecos da cidadezinha,
completamente bêbado, arranjando encrenca com os peões. Quando
contratamos o pobre viúvo, não sabíamos que era um alcoólatra.
Nas férias de verão, fomos para lá e assim que chegamos demos com a
horta nos fundos da casa, de onde mamãe tirava seus temperos e saladas,
mastigada por pássaros e insetos. O gramado, amarelo e sem viço, e o
pomar, forrado de frutas podres que ninguém havia colhido.
O homem foi despedido. Lembro-me dele naquela manhã, sóbrio,
protestando. Papai não cedeu. Era um homem firme. Vi o velho ir embora
cabisbaixo e senti uma ponta de estranha satisfação.
Na noite seguinte, minha mãe recolhia roupas do varal quando eu a
ouvi gritar. Corri para fora antes de meu pai, mais curioso do que
aflito, e vi o antigo caseiro segurando-a pelo braço. Ele não passava de
um bêbado gritando bobagens, mas ela tremia de pavor.
Eu tinha sete anos e me lembro de tudo isso e do que veio depois tão
bem quanto a gente consegue lembrar de quando tinha essa idade. Comecei a
xingá-lo, velho feio e nojento, os piores nomes que um rapazinho de
família sabia. Papai saiu da casa. Nas mãos, tinha a espingarda. Nos
olhos, ódio.
Minha mãe escapou e me arrastou para dentro, trancando-me no quarto.
Me deixa sair, eu pedia, quero ajudar papai. Mas sabia que ele não
precisava de nenhuma ajuda. Eu queria ver o que ele ia fazer com o
homem. Mamãe, não. Por isso, ficou apenas escorada do lado de fora da
minha porta, impedindo que eu saísse ou que olhasse pelo buraco da
fechadura.
Da janela, entre as frestas da veneziana, vi meu pai levar o velho em
direção ao bosque que ficava perto da casa principal, apontando a arma
para sua nuca. Abri a janela em silêncio, saltei na grama e os segui à
distância.
Fui arranhado por uma dezena de trepadeiras e samambaiaçus que
formavam o que para mim parecia uma verdadeira mata pré-histórica,
repleta de sons noturnos e brilhos incertos. Andamos por muito tempo, a
noite era quente, eu suava de calor e de excitação. Atravessamos muitos
trechos de mata densa até que vi os dois pararem. Eu me escondi atrás de
um tronco, temendo que me vissem. Não consegui enxergar mais nada. Ouvi
suas vozes baixas, sem entender o que diziam. Então, um tiro, e outro, e
mais outros. Depois, silêncio.
Quando finalmente achei seguro deixar meu esconderijo, meu pai estava
tapando um buraco com terra e folhas. Não havia mais sinal do nosso
antigo caseiro.
Ele se ergueu e acho que quase gritou quando me viu ali parado.
Não se preocupe, papai, eu disse a ele. Não vou contar nunca pra mamãe que você matou o homem ruim.
Ele não disse nada. Andou até o córrego no meio do bosque, lavou as
mãos, enxugou-as nas calças. Quando alguém ameaça sua família, você fica
louco, murmurou, creio que tentando convencer a si mesmo. Só então
sorriu um sorriso forçado. Vai ser nosso segredo, disse.
Contou a mamãe que tinha dado um dinheiro para o velho ir embora e
que se aparecesse lá de novo nós chamaríamos a polícia imediatamente.
Isso bastou para ela.
Não falamos mais sobre aquilo e eu não perguntei a ele se tinha
remorso de ter matado o velho. Mas muitas vezes me peguei deitado na
cama imaginando o que ele havia sentido. Se seria excitante apontar uma
arma para outra pessoa. Se seria divertido ouvi-la pedir misericórdia.
Se seria prazeroso como nenhuma outra coisa olhá-la nos olhos, ver o
terror em seu rosto e, ainda assim, disparar o gatilho.
Quando eu tinha uns doze anos meu pai me achou homem o suficiente pra
aprender a usar a espingarda de chumbinhos. Tecnicamente, não é nem
mesmo uma arma de fogo, pois não dispara movida a explosão, mas a ar
comprimido. É coisa pra matar passarinho mesmo. Um brinquedo. Em meus
treinos solitários eu imaginava como teria sido matar alguém com aquilo.
Um tiro dado bem de perto num dos olhos funcionaria? Seria suficiente
para penetrar no cérebro e arruinar tudo? Quem sabe com o cano colado na
têmpora da vítima? Ou dentro da sua boca, o chumbinho rasgando a
garganta por dentro, causando hemorragia, asfixia?
Fui experimentar minhas teorias. Havia um cão vira-latas que sempre
aparecia pelos arredores, certo de receber restos de comida nos sítios.
Encontrei-o sob uma árvore na estrada e mirei no olho. Infelizmente o
tiro pegou na orelha, e o animal saiu correndo e ganindo, sem que eu
conseguisse acertar um outro tiro num ponto mais vital. Mas no mesmo dia
tive a sorte de encontrar outro alvo interessante. Estava bem no meio
da estrada, semi-atropelada por alguma roda veloz. O corpo estava
esmagado no local onde deviam ficar as entranhas. Era uma cascavel,
arisca e belíssima em sua agonia contorcionista. Fiquei longe o
suficiente para evitar a última mordida do bicho. Mirei bem na cabeça
que se movia. Acertei em cheio! Depois, com meu canivete, cortei fora o
chocalho da cobra, meu troféu. Carreguei por muitos anos o chaveiro que
meu pai fez para mim com ele.
Logo, porém, a velha espingardinha perdeu a graça e procurei outras
distrações. Com o tempo, como era de se esperar, comecei a olhar para as
garotas com olhos que já não eram de menino. Aos quinze, tive essa
namoradinha completamente doida. Era maior de idade e me mostrou o
cigarro, a bebida, as drogas e o sexo, de longe a coisa mais
interessante da lista. Seu sexo era bizarro e eu, um parceiro perfeito.
Fazíamos teatro na cama, empregando uma dezena de brinquedos menos
inocentes do que chicotes de couro. Verdade, ela mandava em mim e suas
ordens eram: me chama de puta, me bate, me fode. Um dia, ela se jogou no
chão e me pediu pra chutá-la. E eu chutei. Não parei de chutar quando
ela pediu. Joguei-me sobre ela e apertei seu pescoço até não agüentar mais suas unhas enormes me arranhando os braços.
Ela se levantou ofegando, xingando, juntando as roupas, jurando que
ia prestar queixa contra mim na Delegacia da Mulher. Eu disse a ela que a
denunciaria antes como corruptora de menores, traficante, prostituta e
sei lá mais quantas bobagens que eu era capaz de elaborar e que o seu
estilo de vida confirmaria.
A polícia nunca foi me procurar por isso. Nunca mais vi a garota.
Sexo, drogas, badalação: nada disso me satisfazia. Eu levava em mim
algo insaciável desde aquela noite no sítio, anos antes. Tinha vontade
de procurar meu pai e perguntar tudo. Queria saber sobre o prazer, a
sensação de ser superior àquele homenzinho desprezível e esmagá-lo feito
uma barata, a noção de ser poderoso, maior do que a lei, a moral, a
vida. Mas sabia que ele jamais confessaria.
Eu ansiava por aquilo que faria meu sangue ferver de verdade, algo
que ensaiou sua aparição quando acertei o cão vadio, quando acabei com a
agonia da cobra, quando arranquei as pernas dos camundongos no fundo da
casa… Eu não falei dos camundongos? Eles me entretiveram por alguns
anos. Eles e os pardais nas arapucas. Mas isso não é importante. O
importante era aquele calor, aquele júbilo doido que tomou conta de mim
quando quase sufoquei minha namorada. Essas coisas todas me davam
prazer, estar no limite e, quem sabe, cruzá-lo. Mas eu não conheci o
êxtase até aquela noite, seis anos atrás.
Eu havia chegado aos dezoito e saía há alguns dias com essa menina
bonita, menor de idade ainda e, como toda menina, ansiosa para ser
mulher. Sei o que estão pensando: chave de cadeia, certo? Como nem eu
nem ela queríamos a intromissão de nossos pais nesse assunto, estávamos
nos vendo às escondidas.
Fomos sozinhos a uma casa noturna no centro da cidade. A banda era
boa, mas ela prestava mais atenção ao que eu cochichava ao seu ouvido.
Soltei meia dúzia dessas bobagens românticas que tornam o caminho entre
as pernas das garotas mais largo e rápido. Depois, meus verbos ficaram
mais ousados, lamber, apertar, chupar. Ela aceitou voltar comigo para o
carro. Vagamos por algum tempo até chegar a um local maravilhosamente
deserto, cheio de casebres e terrenos baldios, nada convidativos a
curiosos.
Ela era mesmo bonita. Rosto de criança e corpo de mulher, combinação
irresistível, e eu não resisti. Inclinamos os bancos e eu comecei a
beijá-la. Mas, volúveis, as mulheres acham que podem mudar de idéia no
meio do caminho que aceitaram seguir, e ela, boa moça de família, não
deixou minhas mãos continuarem roupas adentro, me chamou de apressado,
calma que não é assim, eu sou virgem…
Suas mãozinhas prepotentes me empurraram. Era tudo de que eu precisava.
A verdadeira excitação cresceu em mim de forma explosiva e eu me
joguei sobre ela. Ela ameaçou gritar, tampei sua boca com uma mão, com a
outra eu puxei sua saia, examinei depressa o que escondia. Ela mordeu a
mão que a amordaçava. Sem pensar, acertei um soco no seu rosto e travei
os dedos em volta da sua garganta. Meu casaco grosso de couro impediu
que ela me arranhasse, mas eu não pensava nisso na hora. Ela se debatia.
Eu me lembrei dos pernilongos quando a gente os segura por uma perna e
vai arrancando as outras devagar. Seus olhos enormes, arregalados, nada
entendiam, só suplicavam, a boca muda, aberta como um mundo de novas
sensações para mim. Vi as pupilas tremerem e sumirem por sob as
pálpebras e a língua pender entre os lábios.
Aproximei meu rosto do seu: não respirava mais. Ainda penetrei o
aperto de seu corpo seco, ainda quente, mas logo desisti. Aquilo não
tinha mais graça; eu já havia apaziguado a minha sede.
Rodei por muito tempo na via que margeia o rio, madrugada afora, até
sair da cidade. Antes que o sol nascesse e o movimento voltasse às ruas,
arrastei minha vítima para a margem do rio, fiz uma chupeta no tanque
do meu carro e despejei um pouco de gasolina no corpo. Acendi um pedaço
de papel com meu isqueiro e joguei-o sobre o corpo. Creio que consegui
ao menos desfigurá-lo e apagar o meu toque na sua pele já roxa. Era
suficiente; empurrei-a para dentro da água imunda. Achei impressionante ver como foi fácil. Especialmente nos dias seguintes, quando ninguém da polícia veio me procurar.
Mas não resisti a guardar comigo o pingente que ela levava no
pescoço. Um pequeno troféu, que guardei junto com o chocalho da cascavel
no fundo de uma gaveta.
Naquela noite, conheci a verdadeira paixão da minha vida: a morte.
A morte estampada nos olhos de quem encara seus instantes finais, a
vida se perdendo sem defesa entre minhas mãos. Isso era poder. Isso era o
gozo supremo.
E, sabendo disso, não pude mais parar.
Elas não precisavam ser garotinhas. Bastava que fossem jovens, de
pele ainda tenra e olhos grandes nos quais eu pudesse ver meu rosto
refletido antes de as pupilas se tornarem baças. A emoção de seduzi-las,
levá-las comigo, despistar todos os olhares e então vê-las dar seu
último suspiro me dominava completamente. A lábia, a transgressão e
então o júbilo da vitória. Sempre guardava uma lembrancinha, anel,
presilha de cabelo, até cadarço de tênis, na falta de algo melhor. Não
podia manter um registro escrito da minha marca, pois seria muito
perigoso, então essa era a minha forma de contabilizar. Minha mãe uma
vez até encontrou o estoque e eu expliquei tranqüilamente que eram
lembranças de minhas ex-namoradas. Chegaram a um total de doze peças.
Uma para cada garota.
Sei o que você está pensando. Se não sinto culpa. Se nunca pensei na
dor dos pais, maridos ou bebês dessas mulheres. Preciso confessar que
não. O Doutor Junqueira diz que sou um psicopata, o que significa mais
ou menos que sou incapaz de sentir remorso. É uma explicação tosca, mas
basta para entenderem o que há de errado em mim – ou diferente, como
prefiro dizer. Tem alguma coisa no meu cérebro, como uma peça fora do
lugar, que me torna imune a esse complexo de culpa que todos tentam me
incutir. Não sei se culpa é um sentimento ou um fato. Se for um fato,
sim, eu assumo minha culpa, mas, se for um sentimento, será inteiramente
desconhecido para mim até o dia da minha morte. Não foi erro do meu pai
por me passar os valores errados ou mesmo da minha mãe por ser uma
criatura fraca. Eu já nasci assim, diz o bom doutor.
Gosto do Dr. Junqueira. Ele é engraçado. Vejo o suor se acumular
sobre sua boca e a caneta tremer na mão se ele anota alguma coisa
enquanto conto detalhes do meu modus operandi. Desse jeito,
acho que não vai durar muito como psiquiatra aqui dos detentos. Não sei
se a reação é de nojo ou de prazer. Pra mim, é um pouco de cada. Os homens se escondem sob a moral. O doutor é assim, como meu pai.
Para que não digam que sou completamente insensível, saibam que
sempre amei meu velho. Quando terminei a faculdade, ele me levou para o
sítio, que eu já não visitava há alguns anos, e para a farra na
cidadezinha próxima. Eu era oficialmente um homem. No bar, me falou de
trabalho, de casamento, de família, de todas essas coisas que tornam um
sujeito digno e que ele havia sonhado para mim. Bebemos muito, talvez
demais, e, quando chegamos em casa, de madrugada, fomos praticar tiro em
latas de cerveja que íamos esvaziando na boca à medida que precisávamos
de novos alvos. Dificilmente acertávamos algum. Eu estava excitado e
descuidado e comecei a fazer perguntas sobre aquele caseiro que ele
havia liqüidado há muitos anos. Ele ficou sério apesar do álcool, mas
insisti. Perguntei se ele se sentira vingado porque o desgraçado
assustara mamãe. Se ele se sentira superior a ele ao dar-lhe ordens sob a
mira da espingarda. Se tinha se sentido um homem de verdade ao mandar o
desgraçado para o inferno. Porque estava bêbado, ele riu e disse que
sim, e que o velhote era um grande filho da puta que já tinha olhado
gozado para mamãe mais de uma vez e por isso merecia mesmo uma bala no
meio dos cornos.
Então, finalmente, perguntei quantos tiros haviam sido necessários e
onde haviam acertado. Se a morte fora rápida ou ele agonizara. Ele se
deixou embarcar naquela conversa que em qualquer outra ocasião o teria
deixado horrorizado. Aquelas respostas eram o meu santo grau. Nunca me
senti tão próximo dele como então.
Eu não tinha a paixão de papai por armas. Preferia trabalhar com as
mãos. Expliquei isso a ele quando contei sobre a minha coleção de
lembranças das meninas. Falei a ele do meu prazer como um rapaz fala do
seu primeiro amor. Ele ouviu em silêncio por alguns instantes e demorou
para compreender. Quando o fez, seus olhos se arregalaram e ele começou a
gritar comigo. Seu louco, seu desgraçado, oh, filho, não o meu filho,
por quê, Deus, e outras palavras que não faziam o menor sentido. Ele
andava de um lado para outro, me xingava e murmurava Deus, Deus, o que vou fazer?
Na minha ingenuidade eu confessara a meu pai o que realmente movia
minha vida e agora ele me odiava. Disse num ímpeto que ia me denunciar.
Você não vai fazer isso, respondi, sou seu único filho, não vai me
mandar para a prisão.
Ele berrou, me chamou de criminoso, você tem de pagar pelo que fez.
Eu disse que se ele me denunciasse eu contaria à polícia sobre o homem
que ele havia matado. Mostraria até o local onde ele estava enterrado.
Eu havia visitado aquele túmulo no bosque por anos a fio, em segredo,
pensando na vida e na morte.
Ele me olhou com medo, vacilou. Não importa, disse então, e me deu as
costas. Tive receio de que fosse para dentro buscar as chaves do carro e
correr para a delegacia mais próxima. Papai, chamei, mas ele não se
virou. Então, atirei nas suas costas.
Sem mirar, acertei-o entre os ombros e ele gritou de dor. Só então se
voltou, e no ímpeto caiu sentado na grama. Eu me aproximei, recarreguei
a espingarda, encostei-a na sua têmpora e disparei. Não me lembro de
carregar de novo e de novo a arma, mas sei que o acertei repetidas vezes
no rosto até ele parar de tremer.
Não. Eu não gostei de matar papai. Eu o amava de verdade. Mas ele
ameaçou algo que eu amava mais ainda e tive de fazer. Tive. Não sinto
culpa.
A polícia não engoliu minha história de que, quando acordei na manhã
seguinte, papai já havia saído da casa no sítio e eu não o vira mais
desde então. Mamãe, sempre tão frágil, desta vez decidiu ser firme.
Papai tinha amigos entre gente graúda da capital e ela insistiu com
todos eles, pedindo ajuda, influência, dinheiro, o que fosse necessário.
Não foi preciso muito. Não sei se ela já suspeitava de mim, mas um
dia mostrou à polícia os meus troféus secretos e um oficial identificou o
pingente que a minha primeira vítima usava numa foto. Acabei sendo
detido. Mostraram minha coleção às famílias de algumas garotas
desaparecidas, que reconheceram uma aliança de casamento, um chaveiro e
uma caneta de luxo. Depois disso, confessei tudo.
Não sei realmente se o jornal publicará esta carta aberta, mas sei
que alguém na redação há de lê-la. Como você, que me lê agora. Se você
acredita que sou louco, tente, uma vez na sua vida vazia, colocar-se no
meu lugar e pense de novo nesta pergunta: você já quis matar alguém?
Não? Mentira. Apenas não teve chance. O que faria se estivesse lá?
Comigo? Em mim? A vítima à sua frente, o desejo de matar na alma e todo o
poder para isso em suas mãos.
A morte está em nós como a fome, a sede ou a libido.
Está no jogo da sobrevivência. Livre-se dos seus valores morais, das
suas leis e principalmente do seu medo de ser pego. Diga, o que sobra?
O que sobra sou eu.
Essa historia não é real poden ficar tranquilos .
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